terça-feira, 20 de novembro de 2012

EN ESTA TARDE GRIS

Naquelas manhãs de sábado, subíamos a serra no Aero Willys verde-água de meus pais escutando sempre os mesmos cassetes: Roberto Carlos, Martinho da Vila e o meu favorito, Julio Sosa.



Julio Sosa foi um cantor de tango extraordinário. Dono de uma voz potente e uma capacidade de interpretar que lhe rendeu o apelido de El Varon Del Tango, ele porém, se recusava a interpretar a arrepiante composição de Mores e Contursi, En Essa Tarde Gris. Parece que a letra lhe trazia lembranças dolorosas demais de um amor desfeito, mas a música era tão perfeita para ele que, um dia finalmente, foi convencido a gravá-la. Contam os músicos que participaram da sessão de gravação que Sosa parecia estar o tempo todo com um nó na garganta e que, por isso,  tiveram, por diversas vezes, que recomeçar. E quando conseguiu, terminou a gravação aos prantosO maestro Leopoldo Frederico perguntou então se queria tentar novamente mas ele respondeu "Que quede como está, ya no puedo repetirlo más".
Na volta para casa, dirigindo em alta velocidade, Sosa sofreu um grave acidente , morrendo horas depois no hospital. Era 26 de novembro de 1964.
Não sei se por conhecer e me impressionar com essa história desde criança (lembro do meu pai contando-a), cada vez que escuto esse tangaço acabo me emocionando.
Muitos consideram Sosa tão bom, e alguns até melhor, do que a lenda Carlos Gardel. Curiosamente, suas vidas têm vários aspectos parecidos:  Nenhum deles é argentino de nascimento, Gardel era francês e Sosa, uruguaio. Ambos tiveram uma morte trágica (Gardel em um desastre de avião), e no auge de suas carreiras.

Com vocês, Julio Sosa em sua gravação mais dolente:



En esta tarde gris
1941
Música: Mariano Mores 
Letra: José Maria Contursi 

¡Qué ganas de llorar en esta tarde gris!
En su repiquetear la lluvia habla de ti...
Remordimiento de saber
que por mi culpa, nunca,
vida, nunca te veré.
Mis ojos al cerrar te ven igual que ayer,
temblando, al implorar de nuevo mi querer...
¡Y hoy es tu voz que vuelve a mí
en esta tarde gris!

Ven
—triste me decías–,
que en esta soledad
no puede más el alma mía...
Ven
y apiádate de mi dolor,
que estoy cansada de llorarte,
sufrir y esperarte
y hablar siempre a solas
con mi corazón.
Ven,
pues te quiero tanto,
que si no vienes hoy
voy a quedar ahogada en llanto...
No,
no puede ser que viva así,
con este amor clavado en mí
como una maldición.

No supe comprender tu desesperación
y alegre me alejé en alas de otro amor...
¡Qué solo y triste me encontré
cuando me vi tan lejos
y mi engaño comprobé!
Mis ojos al cerrar te ven igual que ayer,
temblando, al implorar de nuevo mi querer...
¡Y hoy es tu voz que sangra en mí,
en esta tarde gris!


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