segunda-feira, 12 de novembro de 2012

AMPLIDÃO (TERCEIRO DIA)


Terceiro dia

Aquela amplidão dos demônios
que habitam a escuridão das idéias
e que me fazem se esquecer da criança,
e da escola
e do meio dia.
Porque não há nada como o meio dia,
e uma semente brotando,
com o calor do sol.

Aquela amplidão das feras
que me devoram a cabeça
até restar vazio o quarto,
e meu ex-quase-corpo.

(Só atravesso pela faixa de pedestres,
se quero brincar de pacato cidadão.
Na maioria dos dias quero o sangue
perdido na luta.
Beberia esse sangue, se pudesse,
por resignação e penitência.)

A pior, entretanto,
é a amplidão das palavras
que perfuram fundo a carne
e retalham tudo por onde passam.

Uma palavra pode ser punhal
(Não subestime a dureza de seu aço
nem o rigor da sua lâmina).
Ou arma de fogo
que dispara à queima roupa
não pede licença,
nem quer perdão.


É da natureza das palavras
não fazer acordos
nem delegar poderes.
Enquanto pensamos que as escolhemos
somos os escolhidos
para fecundá-las.
Em seu ofício,
fazê-las crescer.


(Germinar da ressurreição
as cinzas dos significados.
Tantas vezes violados,
tantas vezes extirpados.)

Cuidado com o machado, Eugênio,
cuidado para não se cortar.

Cuidado com a amplidão
dos espaços,
nas noites em que estamos sós.

Cuidado com o machado, Eugênio,
que o cabo lhe pode escapar.

Cuidado com a amplidão das palavras
e de tudo que nos faz menor.


Um comentário:

  1. Em seu ofício,
    fazê-las crescer.


    E por seus orifícios,
    fazê-las crescer.

    Inda que nos nocauteiem.

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