sábado, 25 de maio de 2013

FERNANDO PESSOA E A ALMA DE CÔRNO


Antes tarde do que nunca.
Sou daqueles que acredita nas vidas secretas (reais ou apenas imaginadas), nas intenções, nas entrelinhas.
De forma que, para mim, a notícia da publicação de cinco sonetos inéditos de Fernando Pessoa pela revista Granta só ganhou peso quando li um deles, o Alma de Côrno. Que Pessoa era dedicado à expansão ninguém discute. Que seus 127 heterônimos dessem conta de quase tudo que é assunto acho possível, até provável. Mas não garanto, já que não sou estudioso nem pesquisador. Encontrar, portanto, um poema que trata de assunto tão mundano, foi uma upgrade na minha relação de longa data com o português.


Não nos enganemos, no soneto há bastante lirismo e erudição. Mas dessa vez, confesso, gostei mesmo foi da última estrofe, uma coisa meio Bocage, meio eu mesmo!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

MELODIA



Cantarolo uma triste melodia, quase extinta, reminiscência da infância, coisa de mãe ou vó.
Não que elas fossem de se dar a esses luxos! Não lembro dessas artes, só de costuras, panelas chiando, panos de prato, de chão ou de limpar pratarias.
Ainda assim cantarolo essa melodia tristíssima que só posso ter aprendido com elas, naquelas quentíssimas tardes de sábado no subúrbio ou então nas férias intermináveis que tanto me faltam agora.

A melodia me abriu os demais sentidos. Vem então a invasão daquele aroma de pudim de leite recém saído do forno,  aquela textura sedosa, o caramelo cristalino. Meus irmãos e eu disputávamos uma porção extra, quase ao ponto de nos estapearmos.
Se fecho os olhos ouço o burburinho daqueles almoços de domingo, a fartura de sentimentos, mais ainda que a da mesa O pai servindo vinho e sinceridade (nem sempre bondade), ensinando-nos a viver ao seu modo sem querer impor o seu modo. Sutilezas que só entendi muito depois (às vezes, como agora, me pego descobrindo novas perspectivas).
Volto à melodia, já não parece tão triste. 
Provavelmente não era.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

UTÁNI KÖZÖSÜLÉS


Couple, de Nicola Gilfillan 

Deitado ao teu lado respiro
um ar viciado,
mas nada amargo,
que me tinge com as mesmas cores
com as quais, há pouco,
imprimi esse halo em teu pescoço.
Não, não acredite se te digo
que essa marca é superficial.
Na realidade é tudo exceto isso.
Talvez seja um reflexo
ou apenas uma reflexão.