segunda-feira, 12 de novembro de 2012

AMPLIDÃO (SEGUNDO DIA)



Segundo dia

Essa amplidão desgraçadamente bela
dos ossos nas carcaças que sobram nos açougues.
Essa minha mania por açougues!
Essa minha estúpida mania por açougues!
O meu pouco caso com a graça alheia…
Essa vontade de que pessoas morram,
que todas as pessoas morram
que sejamos todos sebo e pelanca
pendurados num gancho de aço,
ou jogados num canto
esperando virar sabão.

(Essa amplidão dos sentidos
em cada sensação esquecida,
em cada gozo interrompido,
das angústias revividas
quando olhos o antigo álbum
de fotografias de viagens e aniversários.)

Algumas mentiras que mantém
o jeito de tudo bem, afinal,
há coisas que não deram certo
mas essa não é a hora
nem aqui é o lugar.

Essa amplidão tão absurda
dos meus pensamentos,
se terei como pagar as contas,
ou se a moral é geneticamente transmitida.

Eu andava e não pensava em nada
e mesmo assim, tudo caía.

Como um viaduto (obrigado, Aldir), como uma maçã (ave, Newton)
como um balão incendiário cai
e queima, queima,
queima até a lua
refletida na escuridão do mar.

Essa amplidão dos sons
que invadem minha ex-cabeça.
A beleza da noite,
e o assombroso barulho do mar.
Num cruzamento qualquer,
dois carros, dois mortos,
e duas famílias despedaçadas.

Ruído de vergalhão se torcendo
dentro da parede que parece rachar,
alguém chorando dor de amor,
uma guitarra solando veloz,
um homem que chegou embriagado e quebra tudo,
a corrente do elevador de carga,
criança berrando de fome.
Grito!
Para não ter que escutar.
Uma luz acende.
Da janela do apartamento em frente dizem que eu estou maluco.
E aí eu grito mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário