quarta-feira, 8 de agosto de 2012

OBTUÁRIO

No dia 19 de dezembro de 2000 meu pai faleceu. Dezesseis dias do meu amado irmão Julio (clique aqui). Sim, foi desgosto. Na época fiz esse poema. Já se foram quase doze anos. E não passa!

Papai e os homens da família no seu último natal 
(só faltou o Marcello que estava viajando) 



Meus amigos, atenção:

Morreu meu pai !

Atenção, atenção :
 “El Chino” está morto !
Com ele,
a ilusão da minha eternidade.

Não há mais parâmetros confiáveis
para a medida de meus dias.

Casamentos aos 23 e aos 50.
Filhos aos 24, 27, 52 e 53.
Sete netos e três bisnetos.

Jovem, foi ator de teatro,
galã disputado.
Depois, foi vender roupas
“que com família, há que se ter pé no chão”,
me disse um dia.

Imigrou para importar frutas.
Faliu.
Estava aposentado.

Não haverão mais aqueles discursos emocionados
que nos dias de festa,
tanto me envergonhavam, quando criança.
Ver meu pai ali,
de paixão exposta...
Achava que o silêncio dos outros
era desconforto, no máximo, respeito.
Só agora entendi
que era fascinação.

Aos 87
de tudo o que se pode morrer
exceto do teimoso coração
que falhou por trinta anos.

Não deixa bens,
tampouco dívidas.
Mas muita saudade.


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