segunda-feira, 13 de agosto de 2012

SENDA (BUSCA E FUGA PARA DECEPÇÃO E ORQUESTRA)


Profundamente inspirado por
El jardín de senderos que se bifurcan, 
J.L. Borges, Ficciones, 1944 



Percorro caminhos irrecusáveis
nessa estrada à beira mar
ou será beira amar?
Tangencio precipícios no temor
de te ver escapar.

Nuvens cinzam
chumbo que não se revela lastro
mas sim tormenta ao meu inseguro coração
que se curva como a própria estrada, e
derrapa nas lembranças.

Arrisco caminhos inexplicáveis
nesta estrada de nuvens e nanquim,
mapa que nos descreve
e me percebe.
Pele.

Mais carregadas agora
parecem menores, comprimidas.
São graves, provisórias,
mas que se beijam afirmam:
“Não queremos aguar”.

Aceito caminhos improváveis
nesta noite sem estrelas.
Estrada longa e mais estreita.
Apenas por aquilo que dissemos me oriento.
Mas foram tantas coisas!

O tempo sussura em meu ouvido
é tarde!
Sem perceber que esta confidência
não me faz seu cúmplice,
só me abate.

Percorro caminhos inexoráveis
nesta noite à meia luz
Pelo retrovisor avisto casas
que brilham os azuis de suas tevês
e emitem sons extremamente monótonos.
Finalmente chove!
Meu rosto não posso secar.

Sigo ansioso por caminhos imprestáveis
na madrugada recém acontecida.
Cruzo com viajantes irrefutavelmente sós
como são os que seres
que habitam essas horas.

No abismo onde a dor de amor se esconde,
o dia ameaça.
Úmido como meu rosto depois do choro,
áspero como minhas mãos
que no volante roçam e se rompem.

Passo por encruzilhadas implacáveis
onde as opções, mais do que imperfeitas,
são todas impossíveis.
Vislumbro o sol em seus primeiros raios
e fixo a visão até que me cego.

É nessa hora que compreendo que a viagem
apesar de infinda não foi perdida.
As de amor nunca são.
E então nestes caminhos inevitáveis
acelero
e não mais peregrino.

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