quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ARMADILHAS



I


O futuro paira sobre esse possível presente
calmo como se soubesse o pouco trabalho que terá.
A rua está vazia às cinco e meia da tarde,
perdi alguma coisa mas não sei o que é.

Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.

Da minha trincheira
perscruto detalhes
copos vazios
uma mosca asquerosa.
Papéis, que inutilmente
procuro catalogar.
Tenho quarenta e seis
mas carrego uns oitocentos.

Da minha trincheira
avanço olhares
pescoços violados.
Nesse labirinto
acumulo dívidas com meus sonhos
que nunca serão pagas.
Tenho quarenta e seis
e principalmente remorsos.


Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.

Percebi com os anos
que a felicidade, no começo
é só uma imagem
mas que no fim, tem gosto.
Acre.
Logo eu que sempre me orgulhei
de ser feliz com tão pouco.


II

Quantos nós precisarei desatar
antes de abandonar de vez minhas fantasias?
Quisera ter convicções tão sólidas
quanto as tuas, onde pudesse me agarrar.

Quantos nós precisarei desatar
Se as certezas nas quais estou amarrado
não me respaldam mais?

Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.

A verdade é que se vou à praça
e vejo os velhos jogando damas
ou crianças brincando no balanço,
reconheço em mim um resto de humanidade
que julgara totalmente perdida.

Mas isso é pouco.
Camaleões mudam de cor para fugir do predador
mas continuam camaleões.

Quantos nós ainda precisarei desatar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário