terça-feira, 10 de julho de 2012

GATOS


Colin, da minha amiga Maria Ruch

De passos firmes mas dançantes
refletem nossa solidão primordial.
Muitas de nossas faltas estão neles:
o desconforto incessante com a pele,
a insatisfação com o toque,
o egoísmo desinteressado.

Mas também são sinceros
o ócio como preferência,
a sombra ao sol.

Foram inventados.
Não poderiam existir naturalmente nesse mundo
onde já foram confundidos com deuses
mas também com feiticeiros.

Têm sete vidas e sete são os pecados
Será essa uma indicação?
Suas garras retráteis marcam a pele
com a mesma sutileza que apontam nosso abandono.

Suas línguas são ásperas como o cotidiano
e os miados, sirenes mórbidas
que curam o silêncio da noite.

As lembranças infinitas das casas onde viveram
são como as dores de saudade em exilados
ou a alegria de um dia inteiro
com quem se ama.

Tão suficientes, que dão a impressão
de que se lambem, só para nos salvar do tédio.

Já os cães,
esses alegres,
com seus temperamentos previsíveis
e sua subserviência
são mais felizes.


 

4 comentários:

  1. No que fazem muito bem! Sem mistério=sem graça.

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  2. "cuando pasas
    y posas
    cuatro pies delicados
    en el suelo,
    oliendo,
    desconfiado
    de todo terrestre,
    porque todo es inmundo
    para el inmaculado pie del gato" (Pablo)

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