quinta-feira, 19 de julho de 2012

ACONTECEU NO ENGENHÃO



The Wall foi um dos álbuns da minha adolescência. Lembro de ir a um dos cinemas que ficavam na praça Saens Peña, com meu irmão Gilberto e meu primo Marcello, assistí-lo duas, três vezes seguidas no mesmo dia. Com a anuência de um lanterninha legal (sorry juventude se vocês não sabem o que é  isso) saíamos para ir ao Bob's fazer um lanchinho rápido. Pois bem: No dia 29 de março desse ano assisti ao meu terceiro show do Roger Waters, desta vez tocando o The Wall na íntegra. Foi uma experiência, como dizer? Definitiva!
Explico, a seguir, um dos motivos do porquê.

No filme Relíquia Macabra (The Maltese Falcon, 1941) o detetive particular Sam Spade é contratado para encontrar uma mulher e acaba resolvendo um caso de  roubo e assassinado por causa de uma estatueta de falcão. Todos nós temos relíquias, macabras ou não. Cada um sabe que objetos merecem a sua devoção: cds, álbuns de figurinhas, joias, sapatos. Cada um sabe o que seria capaz de fazer para obtê-los.



Na parte final do show, o porco inflável que havia sobrevoado o público desce e é sacrificado por esse próprio público. Enquanto isso,  no palco, o muro é implodido. Dois sinais claros da transformação da matéria e sinais que nós mesmos também estamos nos transformando. Por um momento ficamos na dúvida se o porco deveria ter tido mesmo aquele fim. Por um momento não queremos acreditar que teremos que seguir em frente. Por um momento queremos que o falcão maltês nunca seja encontrado.
Ao meu ver, Waters não se livrou completamente do trauma da cusparada (obrigado EVANDRO pela aula). E segue sacrificando seus porcos, dia após dia, show após show, para lembrar-se de que há finitude, no sucesso e na vida (na turnê anterior o porco se perdia nos céus).
Ganhei do Bruno Najjar (que ajudou a trucidar o bichano. Obrigado novamente), um retalho do suíno voador. Não precisei matar ninguém como no filme, não precisei expurgar nenhum trauma.  
Provavelmente o colocarei numa moldura como fazia  Jonh Huston, o diretor do filme, com as carcaças dos animais que abatia em safaris pela África. Não para lembrar do show, já que não há como esquecer mas para materializá-lo (desde a adolescência, quando me engalfinhava por palhetas lançadas pelos guitarristas de Heavy Metal não tenho essa possibilidade).



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