quinta-feira, 12 de julho de 2012

PROSA E POESIA


Como lhe embalavam os sonhos
aquelas cadelas mestiças.
Também eram o seu tormento.
corriam tanto, dentro e fora,
da casa e dela, as vadias,
que às vezes era como uma obrigação,
nem valia!

Prosa era forte
e leal como cães de cinema.
Poesia, tão decidida,
era só temperamento.
Diziam que sua alma era de gato.
Se eram irmãs ?
Não sei dizer nem se pareciam!

Prosa latia alto
vinha com novidades
cavucava, desenterrava miudezas
mas preferia a prática de guardar portões.

Poesia era cão de companhia
mas não trazia chinelos!
Nem fazia questão de parecer amável.
Nunca foi ver quem chegava.

Como não se importavam com as mesmas coisas,
raramente se estranhavam.
Em compensação não me lembro de vê-las brincando juntas.

Não é que Prosa deixasse de ir atrás de uma bola
se até malabarismos fazia,
daqueles que abrem sorrisos.
Mas soava burocrático.

Poesia vivia a pular em borboletas
e cheirava as flores do jardim
antes de fazer pipi em todas elas, e pisoteá-las
porque no fundo as detestava.
Aliás, Prosa sempre urinava na garagem,
sobre uma folha de jornal.

Clarice cuidava delas desde mocinha
e era como essas mães  que, toda hora,
trocam os nomes dos filhos.
Trocava tanto que até elas se confundiam
e Prosa pensava que era Poesia que pensava que era Prosa
que pensava…

Num dia,
desses tão comuns que irritam a gente
aconteceu de uma sumir.

De vez.
Assim e pronto.
Mas a que ficou, assumiu.
Tornou-se soma o que antes era parte
E agora, era assim:
Prosa mordia chuva,
Poesia lambia a cria.

Poucos notaram,
ninguém perguntou,
e só Clarice entendeu.





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