segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SENTIDOS


Em menos de um minuto, enquanto os outros que tinham chegado antes de nós não tinham nada na mesa, o nosso champanhe chegava, e logo depois dele o prato de prata e a sua carga de gelo e conchas, que continham os escarros reluzentes de vísceras salobras que nós não deixávamos de fingir que adorávamos.

Ian McEwan, em Serena

Lembro da cor
sempre fui doido pela cor
só depois os outros sentidos assomaram.


Lembro dos sons
de água batendo, água viva
percussões, cordas, teclas, sopros, botões.

Lembro do cheiro de mar
de ostra fresca, mole, se mexendo
enquanto eu a sorvia de uma só vez.

Lembro da textura

de pétala, véu, veludo.
Guardava segredos. E no entanto era franca!

Lembro do gosto

de carne crua, de sal, de luta. Meu céu
da boca dormente de tanto suco.




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