domingo, 23 de dezembro de 2012

TALVEZ

Heart Surgery de Douglas Ross


Depois de uns poucos sins e muitos nãos ela entendeu que na vida nada é mais definitivo do que um talvez. Nada aprisiona tanto, nada paralisa mais. Enquanto  sim ou não nos faz seguir em frente ou mudar de direção, o talvez nos deixa indefinidamente em compasso de espera. 
Ela deixou sua casa, apenas com a roupa do corpo, sem levar o celular ou seus documentos. Não deixou bilhete. Jamais telefonou.
Tomou um ônibus na rodoviária para uma cidade distante mil quilômetros da sua. Com o dinheiro que economizou por quase um ano alugou um  quarto de pensão. Uma semana depois já tinha um emprego de doméstica: casa, comida, salário. Exatamente como planejara. Vida nova. 
Vida!
Foi preciso fugir. Era isso ou então matá-lo. Não suportaria vê-lo preso, caso o denunciasse pelas surras que tomava nas madrugadas de sexta, quando ele chegava transtornado de cachaça e cocaína. 
A dúvida do que lhe aconteceu é o castigo dele. Gosta de imaginá-lo perguntando-se se um dia ela voltará. Talvez. 

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