segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ANTES EU PUDESSE


    "Quis o destino" é uma das coisas que falo quando não estou pronto a admitir minha culpa nos acontecimentos. Por exemplo, para justificar aos amigos mais próximos o porque do meu casamento ter acabado. Mas não me engano, sei exatamente o que fiz para que ela me deixasse. Conheço muito bem minhas fraquezas de caráter, minhas pequenezas de temperamento, minhas mesquinharias no dia a dia. Dizem que reconhecer um erro é o primeiro passo para superá-lo. Bobagem! 
    Ainda bem que não tivemos filhos. A verdade é que foi por um triz. Ela engravidou mas acabamos optando por um aborto. Pressão minha, confesso. Não consigo me imaginar com um filho atando-me à esse mundo por mais tempo do que aquele que eu decida como o justo. Esse meu pensamento também contribuiu para que o amor que ela sentia por mim fosse minguando. Muita coisa contribuiu.
   Todo mundo sabe que os casamentos, de uma forma geral, são os grandes predadores do amor. A maioria dos contratos, quando dura é simplesmente porque funciona razoavelmente bem para as conveniências e convenções do dia a dia. Conheço um monte de gente casada que não discorda disso, pelo contrário, acha essa tese perfeitamente natural. Vivem bem assim, sem amor (ou quase) e sem grandes sofrimentos. Eu não conseguiria. Flores de plástico não morrem, como diz a música, mas de que adianta se não estão vivas?
    Ruth, que sempre foi mais esperta do que eu, me disse noutro dia: "Frank, eu até posso entender que você tenha escolhido viver tentando não amar novamente. Mas por que diabos você não aproveitou essa opção e largou para sempre essa sua obsessão pelo amor?" Não respondi mas pensei: "Antes eu pudesse! Antes eu não o tivesse vivido. Antes eu não o tivesse sentido na sua forma mais profunda, aguda, crua. 
Crua.
Antes eu não o tivesse visto na sua abundância e generosidade. Antes eu não o tivesse conhecido na sua versão total, absoluta e incondicional."

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