quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SERÁ?


The Milkman Never Rings Twice, de Viesturs Links


Será que realmente pareço uma criança
quando esfrego os olhos com os nós dos dedos?
Ou será apenas sua imaginação
que vê um garoto desprotegido
quando estou só dormindo
com as mãos unidas sob o travesseiro?

É porque acordo, constantemente, 
em pesadelos,
apavorado, 
e a abraço forte demais?

É que desde menino,
sempre tive medo das sombras,
dos movimentos que os faróis dos carros projetavam no teto do quarto.
Abominava persianas. 
Lamentava me pela alergia que proibia as cortinas.
Só ia dormir,
quando o sono era imenso.
Se acordava, a qualquer hora,
não tentava mais.

Pareço uma criança quando me empolgo
com meus novos brinquedos?
É porque quero ver sempre o mesmo filme?
Talvez seja porque uso demais diminutivos,
invento nomes, 
apelidos que são quase gemidos.

Volta e meia retorno àquela conversa sobre um gato,
tão legal ter um gato, deixa que eu cuido,
prometo que você não vai ter trabalho.

Mas quando a toco
e me descontrolo de tanta excitação
é que finalmente aceito essa minha mutação.
Reconheço aquele menino saliente
que não sabia nada dessas coisas
mentia aos colegas da escola que, é claro, 
também mentiam.

Pela casa a sigo.
Arfando
mergulho em seu decote
para redescobrir que já o conheço tão bem.

Como minha falta de jeito a diverte!
Ri, quer saber por que só agora.
Enquanto docemente me beija a boca,
furtiva, abre um botão da minha camisa,
e olho no olho diz
que eu sou seu homem,
mas também seu menino.

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