terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

LONGE É O CEARÁ, O RESTO É SÓ DISTANTE






Saí para dar uma volta e passei pelo mercado. Só as lojas do térreo e os escritórios da sobreloja estavam abertos àquela hora. Zanzei cumprimentando conhecidos e acabei no bar do outro lado da rua. O balconista era meu xará e servia sozinho aos muitos taxistas que almoçavam.
"Tudo bem? Tá perdido, tá?", perguntou enquanto recolhia três pratos e umas tantas travessas de alumínio com restos de feijão, macarrão e galinha ensopada. Eu gostava do seu sotaque nordestino e do jeito de terminar quase todas as frases com uma indagação.
Pedi uma soda limonada e respondi desanimado "Estou só dando uma volta".
"Xi, o menino tá com problemas, é? Aposto que é moça bonita bagunçando a cabeça." Falou alto mas ninguém estava interessado. As conversas sempre eram sobre defeitos nos carros ou então histórias de passageiros.
Sem graça respondi "Mais ou menos. Sabe quando você quer ajudar uma pessoa de quem você gosta muito mas não sabe como?"
"Deixa de bestagem. É só ficar por perto que você acaba ajudando."
Um dos taxistas que havia pedido três pastéis para viagem recomendou: "Embrulha bem que eu vou para longe."
"Vai pro Ceará, vai? Longe é o Ceará, o resto é só distante."
O taxista riu e disse "Embrulha bem que eu estou indo para um lugar distante."
Paguei a soda e agradeci o conselho.
Então era isso, era só ficar por perto.
Voltei pela rua em frente à igreja, primeiro andando rápido e depois correndo. Cheguei em cinco minutos. Ofegante e sem saber o que iria dizer, toquei a campainha. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário