terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O ENGANO




Doroteia passou mal numa tarde de domingo, os pratos do almoço ainda na mesa. Derrame? Infarto? A família estava dividida. O filho mais velho se desesperava com a demora da assistência, enquanto a caçula calmamente entretinha os filhos e sobrinhos no seu antigo quarto. Aos oitenta, Doroteia suava frio e falava coisas desconexas. Enfim a ambulância chegou mas não houve jeito da maca fazer a curva no corredor apertado. Alguém sugeriu "Vamos colocá-la num colchão e levá-la até a sala". Ainda desnorteada, Doroteia abriu os olhos e gritou "Em um caixão não!" Cinco minutos depois pôs-se de pé, recusou-se a ir até o hospital fazer exames e, sem nenhuma outra indisposição, viveu até os noventa e dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário