quarta-feira, 13 de março de 2013

SEU PRÓPRIO ESPANTO




Daquelas férias na fazenda do tio ele guarda lembranças dispersas mas definitivas. Quase todas ainda conservam aquele arcabouço de grandeza sobre o qual somente as crianças podem se erguer (naquele tempo responsabilidades e culpas ainda não tinham sido inventadas). 
O banho friíssimo no dia mal nascido; os bolos de milho que a tia fazia todas as tardes, servidos quentinhos com manteiga derretendo por cima; As goiabeiras do fundo da casa grande, tão carregadas que se curvavam como anciãos; o escarcéu dos animais no cio; a grande figueira sob a qual, todas as noites, os peões contavam histórias tenebrosas.
Mas principalmente, ele se lembra,  do seu próprio espanto quando descobriu que os porcos não conseguem olhar para o céu.

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