domingo, 10 de junho de 2012

AH, SIM! MINHA AVÓ CONTAVA HISTÓRIAS




Ah, sim! Minha avó contava histórias. Essa era sua verdadeira especialidade. Algumas eram sobre meu avô, que começou a vida como aprendiz de queijeiro, lá na Itália. Mas também contava histórias fantásticas de cavaleiros que nem sempre salvavam princesas, de bruxas que ferviam gente em caldeirões para roubar-lhes o sumo da vida e ciganos horrendos que roubavam crianças. Podia ser também de bárbaros que eram grandes cavaleiros, princesas horrendas e até mesmo de bruxas que salvaram crianças. Os finais eram sempre inventados. E jamais repetia um do mesmo jeito. Por causa disso, ao invés de dormir eu tentava ficar acordado o máximo possível. No início eu achei que a medida que sua paciência se esgotava ela ia matando seus personagens, até que não restasse nenhum. Depois, percebi que de qualquer jeito ela os matava. Uma noite não resisti: “- Vó, por que nas suas histórias todo mundo morre no final?” Ela suspirou como quem diz “-Até que enfim ele perguntou” e amavelmente disse ao seu neto de quatro anos, e com sinceridade:“-Para que você vá aprendendo que é assim que as coisas são. No final, morreremos todos, bons e maus.” Mas até que eu gostava disso. Aprendi a comandar vida e morte, só com um fechar de olhos. Quando eu simpatizava com algum mago ou soldado, fingia dormir bem na hora em que ela ia matá-lo, e o salvava. Naquela época eu ainda acreditava em Deus e pensei que se Ele estivesse fingido que dormia, minha mãe não teria morrido. 

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