Cantarolo uma triste melodia, quase extinta, reminiscência da infância, coisa de mãe ou vó.
Não que elas
fossem de se dar a esses luxos! Não lembro dessas artes, só de costuras,
panelas chiando, panos de prato, de chão ou de limpar pratarias.
Ainda assim
cantarolo essa melodia tristíssima que só posso ter aprendido com elas,
naquelas quentíssimas tardes de sábado no subúrbio ou então nas férias intermináveis
que tanto me faltam agora.
A melodia me abriu
os demais sentidos. Vem então a invasão daquele aroma de pudim de leite recém
saído do forno, aquela textura sedosa, o caramelo cristalino. Meus
irmãos e eu disputávamos uma porção extra, quase ao ponto de nos estapearmos.
Se fecho os olhos
ouço o burburinho daqueles almoços de domingo, a fartura de sentimentos, mais
ainda que a da mesa O pai servindo vinho e sinceridade (nem sempre bondade),
ensinando-nos a viver ao seu modo sem querer impor o seu modo. Sutilezas que só
entendi muito depois (às vezes, como agora, me pego descobrindo novas
perspectivas).
Volto à melodia, já
não parece tão triste.
Provavelmente não
era.
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