1996
Não é que ele não tenha tentado o suficiente.
Apenas não conseguiu. Porque o ser humano não pode lutar o tempo todo contra aquilo para o qual ele existe. E nossa
existência não está condicionada à nossa vontade,
mas sim ao nosso desejo, ainda que a
maioria das pessoas confundam essas duas coisas.
Na minha convivência com putas vejo inúmeros
casos de homens que oferecem e mesmo insistem até que conseguir tirá-las “da
vida”. O procedimento é sempre parecido. Montam apartamento, mandam vir os parentes dela,
normalmente a mãe e o filho (se ela tiver, é claro, e quase sempre elas têm). A
maioria deles não sossega enquanto não se casa. E para quê? Para depois ter
ciúmes da própria sombra. Os mesmos caras que em outras circunstâncias fariam
de tudo até desviar alguma mocinha de família ou alguma mulher casada. São
esses caras que têm fantasias eróticas com freiras! Alcançar a virtude e
corrompê-la é um afrodisíaco maravilhoso. Eu mesmo já provei desse néctar, mas
isso não vem ao caso.
Rick tentou ser fiel. E quanto mais ele tentava
mais elas se exibiam, se declaravam, se ofereciam. Ele conhecia os truques e se
desvencilhava deles com facilidade. Mas por baixo daquela calça havia um membro
acostumado à satisfação sem limites e que estava submetido a uma rigorosa dieta
monogâmica. Suas partes altas e partes baixas estavam em conflito. E isso o
debilitou animicamente. Perdeu a vontade de sair à noite e de viajar nos fins
de semana. O sexo com Rebeca, ao invés de melhorar, como era de se esperar,
piorou. Mas mesmo assim ele tentou. Até que num início de noite, quando estava
quase saindo do escritório, alguém tocou a campainha. Todos os funcionários já
tinham saído então ele mesmo foi abrir a porta. Era Inês, uma das melhores
amigas de Rebeca desde a faculdade e sócia de sua esposa no consultório.
“Pensei
que a sua secretária não iria embora nunca.”
Ele sequer perguntou o que ela estava fazendo
ali porque há certas coisas que são auto-explicativas. Já se conheciam há
alguns anos e sempre que ficavam a sós, ela deixava claro que um dia eles
teriam um caso. Antes que ele pudesse articular uma saída (e ele não estava
certo de querer sair), Inês trancou a porta e tirou toda a roupa. Seus
atributos eram bem convincentes Mas ao invés de se atirar sobre Rick, dando-lhe
a chance de fazer a próxima jogada,
Inês usou uma tática inesperada e covarde. Começou a se tocar, a falar
indecências, a aproximar sua mão úmida do nariz dele para que ele pudesse
sentir o perfume do seu sexo. Se apresentou em ângulos que a vulgarizavam mas
também a potencializavam. Cuspiu na suas mãos e esfregou a saliva nos seios e
no rosto. Abriu as nádegas com as mãos, mostrando-lhe o rabo. E ele ali,
encostado na sua escrivaninha, pouco a pouco sendo dominado pelos sentidos. Até
que mandou seu estoicismo pro inferno, e puxou-a pelo cabelo em sua direção. O
que se seguiu é óbvio: sexo no chão, no sofá e na mesa da sala de reuniões.
Inês gritando palavrões e Rick voltando à sua realidade.
Assim terminou seu ascético celibato. Mas que
ele tentou, tentou.
·······
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