Era uma mulher bonita, bem sucedida na carreira, divorciada, sem
filhos. Tinha sido casada durante cinco anos com um professor da mesma área.
Colegas de turma, casaram-se logo que se formaram. Contou sobre o fim do seu
casamento numa das raras vezes em que esteve triste, num daqueles dias em que,
sobre nós, o passado se abate de uma única vez. Como em tantos relacionamentos,
o dela foi perdendo o viço, e numa tarde, durante uma viagem do marido à um
Congresso, ela sucumbiu às investidas de um jornalista famoso que a
entrevistara para a televisão, sobre o plano Sarney, eu acho. Foram a um motel,
e na saída, quando a gana de se sentir desejada outra vez já tinha se
transmutado em culpa, a recepcionista entrega-lhe dois bombons em embalagem
dourada. Iguais àqueles que seu marido lhe trazia todas as quartas à noite,
quando voltava do futebol com os amigos, dizia que eram do restaurante onde o
grupo jantava depois. E que ela nunca encontrou em loja alguma. Mesmo tamanho,
peso, mesma embalagem dourada, sem identificação. Pequenos detalhes surgem na
memória, telefonemas às escondidas, a roupa do futebol suada de menos, mesmo
nos dias quentíssimos. O amante de uma tarde pergunta se está tudo bem, e ela
consegue disfarçar ”É claro”, mas só quer desaparecer. Conseguiria perdoar as
traições do marido, mas não consegue entender o motivo dele em levar-lhe os
bombons, todas as semanas. Será que queria inconscientemente ser descoberto?
Será que era para contar vantagem aos amigos? Ou ele se excitava, vendo-lhe a
cara de inocência, agradecendo com um beijinho estalado nos lábios? Na manhã
seguinte, telefonou ao motel e pediu o nome do fornecedor dos tais bombons,
inventou uma mentira, que trabalhava numa empresa e estavam levantando custos
para brindes de fim de ano. Conseguiu o número e encomendou várias caixas.
Enquanto isso fingiu, e só ela sabia o que era fazer isso com o nojo que trazia
nas entranhas. Dias depois, o marido voltou de viagem, exatamente numa
quarta-feira. Pelo telefone, ela disse que estava numa reunião na Reitoria, que
só ia para casa bem tarde, “-Claro que você pode jogar futebol”. Quando ele
abriu a porta à noite, com os dois bombons dourados nas mãos, viu milhares deles cobrindo o piso, os móveis, a cama. Lotando a geladeira, os armários, a
banheira. Ela tinha se mudado, e nunca mais falou com ele. “Acabou e pronto.”
falou a todos que a procuraram. Fez uma longa viagem, mas antes, seduziu o
arquirival de seu marido no Conselho Universitário. Humilhado, o agora ex marido acabou deixando a Universidade, "O canalha se mudou para o Rio Grande
do Sul”.
Meses depois, almoçando com amigas, ela recebe os tais bombons na
saída de um restaurante. Seu corpo gela, o suor escorre por suas costas, as
pernas tremem. As certezas evaporaram como chuva de verão no asfalto fumegante.
Era tarde demais. Até para saber a verdade.
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