Naquelas manhãs de sábado, subíamos a serra no Aero Willys verde-água de meus pais escutando sempre os mesmos cassetes: Roberto Carlos, Martinho da Vila e o meu favorito, Julio Sosa.
Julio Sosa foi um cantor de tango extraordinário. Dono de uma voz potente e uma capacidade de interpretar que lhe rendeu o apelido de El Varon Del Tango, ele porém, se recusava a interpretar a arrepiante composição de Mores e Contursi, En Essa Tarde Gris. Parece que a letra lhe trazia lembranças dolorosas demais de um amor desfeito, mas a música era tão perfeita para ele que, um dia finalmente, foi convencido a gravá-la. Contam os músicos que participaram da sessão de gravação que Sosa parecia estar o tempo todo com um nó na garganta e que, por isso, tiveram, por diversas vezes, que recomeçar. E quando conseguiu, terminou a gravação aos prantos. O maestro Leopoldo Frederico perguntou então se queria tentar novamente mas ele respondeu "Que quede como está, ya no puedo repetirlo más".
Na volta para casa, dirigindo em alta velocidade, Sosa sofreu um grave acidente , morrendo horas depois no hospital. Era 26 de novembro de 1964.
Não sei se por conhecer e me impressionar com essa história desde criança (lembro do meu pai contando-a), cada vez que escuto esse tangaço acabo me emocionando.
Não sei se por conhecer e me impressionar com essa história desde criança (lembro do meu pai contando-a), cada vez que escuto esse tangaço acabo me emocionando.
Muitos consideram Sosa tão bom, e alguns até melhor, do que a lenda Carlos Gardel. Curiosamente, suas vidas têm vários aspectos parecidos: Nenhum deles é argentino de nascimento, Gardel era francês e Sosa, uruguaio. Ambos tiveram uma morte trágica (Gardel em um desastre de avião), e no auge de suas carreiras.
Com vocês, Julio Sosa em sua gravação mais dolente:
Com vocês, Julio Sosa em sua gravação mais dolente:
En esta
tarde gris
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1941
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Música: Mariano Mores
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Letra: José Maria Contursi
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¡Qué ganas de
llorar en esta tarde gris!
En su
repiquetear la lluvia habla de ti...
Remordimiento
de saber
que por mi
culpa, nunca,
vida, nunca te
veré.
Mis ojos al
cerrar te ven igual que ayer,
temblando, al
implorar de nuevo mi querer...
¡Y hoy es tu
voz que vuelve a mí
en esta tarde
gris!
Ven
—triste me
decías–,
que en esta
soledad
no puede más el
alma mía...
Ven
y apiádate de
mi dolor,
que estoy
cansada de llorarte,
sufrir y
esperarte
y hablar
siempre a solas
con mi corazón.
Ven,
pues te quiero
tanto,
que si no
vienes hoy
voy a quedar
ahogada en llanto...
No,
no puede ser
que viva así,
con este amor
clavado en mí
como una
maldición.
No supe
comprender tu desesperación
y alegre me
alejé en alas de otro amor...
¡Qué solo y
triste me encontré
cuando me vi
tan lejos
y mi engaño
comprobé!
Mis ojos al
cerrar te ven igual que ayer,
temblando, al
implorar de nuevo mi querer...
¡Y hoy es tu
voz que sangra en mí,
en esta tarde gris!
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