segunda-feira, 12 de novembro de 2012

AMPLIDÃO (PRIMEIRO DIA)


                                                     
Primeiro dia

Aquela amplidão tão necessária dos espaços
quando eu era um morador de apartamentos
e andava mudo,
andava, andava.
Mas não alcançava
o horizonte nem a rua principal.

Cindido entre certezas de concreto,
e o desgoverno de minhas ações,
deixei-me ir.

(A mão reclama seu lugar
e larga o queixo que até agora sustentara.
Recolhe-se ao trabalho inútil
de separar papéis velhos,
rasgar antigas cartas.)

Eu só andava.
E escondia a melancolia
assistindo a cem canais e a nenhum
enquanto o relógio:
o amanhã já vem, o amanhã já vem, …

Essa amplidão dos pecados,
De cada prazer
que me confortava…

Quem gosto bom tem a chuva na cara

numa tarde quente de novembro

Um casal decora a paisagem
com um longo beijo e suas mãos.
Parecem felizes. Ele exibe uma calva brilhante,
ela precisa se por nas pontas dos pés para alcançá-lo.

A verdade não procura a boca certa.
No Café Suíço, cheiro de gordura
e a pergunta antes incômoda, da mulher exageradamente maquiada:
-Por que tantas feridas? 

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