Segundo dia
Essa amplidão desgraçadamente
bela
dos ossos nas carcaças que sobram
nos açougues.
Essa minha mania por açougues!
Essa minha estúpida mania por
açougues!
O meu pouco caso com a graça
alheia…
Essa vontade de que pessoas
morram,
que todas as pessoas morram
que sejamos todos sebo e pelanca
pendurados num gancho de aço,
ou jogados num canto
esperando virar sabão.
(Essa amplidão dos sentidos
em cada sensação esquecida,
em cada gozo interrompido,
das angústias revividas
quando olhos o antigo álbum
de fotografias de viagens e
aniversários.)
Algumas mentiras que mantém
o jeito de tudo bem, afinal,
há coisas que não deram certo
mas essa não é a hora
nem aqui é o lugar.
Essa amplidão tão absurda
dos meus pensamentos,
se terei como pagar as contas,
ou se a moral é geneticamente
transmitida.
Eu andava e não pensava em nada
e mesmo assim, tudo caía.
Como um viaduto (obrigado, Aldir), como uma maçã (ave, Newton)
como um balão incendiário cai
e queima, queima,
queima até a lua
refletida na escuridão do mar.
Essa amplidão dos sons
que invadem minha ex-cabeça.
A beleza da noite,
e o assombroso barulho do mar.
Num cruzamento qualquer,
dois carros, dois mortos,
e duas famílias despedaçadas.
Ruído de vergalhão se torcendo
dentro da parede que parece
rachar,
alguém chorando dor de amor,
uma guitarra solando veloz,
um homem que chegou embriagado e
quebra tudo,
a corrente do elevador de carga,
criança berrando de fome.
Grito!
Para não ter que escutar.
Uma luz acende.
Da janela do apartamento em frente dizem que eu estou maluco.
E aí eu grito mais.
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