Muitas vezes, quando saio de casa cedinho, ainda no carro, acabo me emocionando enquanto escuto uma determinada música: "Last Goodbye" do Jeff Buckley ou "Beautiful" do Marilion são figurinhas fáceis.
A da hora é "Ara Bátur" do Sigur Rós.
Dizem que vivo à flor da pele mas quem pode garantir?
Meu pequeno cavalheiro, espero que você cresça para enfrentar os dragões que hoje, em vigília, tento impedir que forcem a porta do teu quarto. E que você vença principalmente os dragões que te habitam. Meu pequeno príncipe, onde você está agora? Posso te ver mas não te encontrar.
Na paz desses primeiros dias de férias, entre as centenas de músicas que escuto, uma se destaca: "O que é bonito?", do álbum "Olho de Peixe", gravado em 1992, por Lenine e Marcus Suzano. Com uma sonoridade muito bem cuidada talvez esse seja o mais belo álbum da música brasileira (sem exagero). As composições formam um todo harmonioso e cem porcento conceitual, como gostam meus companheiros do rock progressivo.
Em "O que é bonito"?, de Lenine e Bráulio Tavares a melodia emoldura um poema tocante e absurdamente bem construído. Para começar o ano bem!
I leave the gate and close the door And when it rains it really pours I left her a memory And a boatman's song Of how it ended before it had begun Took a bite from the apple Glistening red lips Moonlight was golden shining off her hip She said don't look back Just come on in You've got to hold on never give in We're all here Trying to be Someone we know that We'll never see. We are all lost We're down on our knees Making believe These are our dreams The shadows lean on the old town square There's nothing left to keep me here Where promises are made of air ...
Simplesmente adoro bandas/artistas que lançaram apenas um disco. Sei lá, sinto que toda uma gama de fatores confluíram para que aquela obra fosse a síntese daquela inspiração/união.
Os exemplos são muitos (entre o ABSURDO e o INFINITO) mas os mais significativos para mim são as/os bandas/artistas ARMAGEDDON (Armageddon, Inglaterra, 1975), JEFF BUCKLEY (Grace, Estados Unidos, 1994) e FAIRFIELD PARLOUR (From Home To Home, 1970).
Ainda que os dois primeiros mereçam e terão posts dedicados à eles aqui, hoje vou falar sobre essa obra única e maravilhosa que é o álbum do Fairfield Parlour. "Única" nem é uma expressão exata porque os mesmos caras haviam lançado quatro álbuns com o nome de Kaleidoscope (não confundir com a banda americana de mesmo nome). Entretanto, esse disco tem uma natureza tão própria que acaba diferindo da obra anterior deles.
Ao trocarem de nome tudo mudou!
Com uma sonoridade que remete intencionalmente (e declaradamente) aos Beatles, a banda liderada por Eddy Pumer e Peter Daltrey (autores de todas as canções, ok, eu sei que você pensou em Lennon e MacCartney) fizeram um misto de folk e classic rock da mais alta qualidade. Sempre que os ouço (e é sempre) lembro (além dos The Fab Four) do Pretty Things ou mesmo de uma das (melhores fases) do Fairport Convention.
"From Home To Home" traz algumas maravilhas como "Aries", "Soldier Of The Flesh" (link a seguir) e "Emily".
Além dessas, destaco (E MUITO!) a curtinha (tem exatos dois minutos), intensa e apenas aparentemente inocente "'In My Box":
In my box have lots of things Like bicycles and bells and things, And an old oak tree and you!
In my box have lots of things Like buses, trams and trains and things And a bust of King George and you!
In my...
In my box I get lost all the time In box I get lost, but who cares? Just pour the wine!
In my box have lots of things Like mountains, ships and peas and things And a Sunday School and you
In my...
In my box I get lost all the time In box I get lost, but who cares? Just pour the wine!
In my box I have lots of things A broken heart and plate and dreams And a photograph of me!
In my...
In my box I get lost all the time In box I get lost, but who cares? Just pour the wine!
(Nem precisa do google translation. Para entender de verdade talvez precise de outra coisa).
Esse álbum surpreende sempre quem o escuta pela primeira vez. A minha edição é de 2004, da (dedicada editora alemã) Repertorie, e traz OITO faixas bônus!
Não é nem de longe o mais conceituado (apesar de ser bem conceitual). Dizem que nem pode ser considerado um álbum da banda já que o projeto é todo do Roger Waters. Eu não me importo. O que sei é que THE FINAL CUT (1983) marcou minha adolescência, com sua história bem contada, suas belas melodias, com Waters cantando de forma sofrida (o trabalho é dedicado ao pai dele, morto na segunda grande guerra).
Para mim é o post-scriptum perfeito para o The Wall (com o qual se assemelha em vários momentos).
Jamais vou esquecer, na segunda vez que Waters veio ao Brasil, quando tocou The Flecher Memorial Home. A maioria do público na Praça da Apoteose não sabia nem do que se tratava enquanto eu e um punhado de emocionados amigos gritávamos abraçados, a todo pulmão, "Boom boom, bang bang, lie down you're dead".
Pergunte a cem fãs do Floyd quais seus álbuns favoritos da banda e esse não aparecerá na lista nem de cinco deles. Mas na minha está! Por quê? De verdade, a gente precisa mesmo racionalizar os motivos para amar alguma coisa?
Naquelas manhãs de sábado, subíamos a serra no Aero Willys verde-água de meus pais escutando sempre os mesmos cassetes: Roberto Carlos, Martinho da Vila e o meu favorito, Julio Sosa.
Julio Sosa foi um cantor de tango extraordinário. Dono de uma voz potente e uma capacidade de interpretar que lhe rendeu o apelido de El Varon Del Tango, ele porém, se recusava a interpretar a arrepiante composição de Mores e Contursi, En Essa Tarde Gris. Parece que a letra lhe trazia lembranças dolorosas demais de um amor desfeito, mas a música era tão perfeita para ele que, um dia finalmente, foi convencido a gravá-la. Contam os músicos que participaram da sessão de gravação que Sosa parecia estar o tempo todo com um nó na garganta e que, por isso, tiveram, por diversas vezes, que recomeçar. E quando conseguiu, terminou a gravação aos prantos. O maestro Leopoldo Frederico perguntou então se queria tentar novamente mas ele respondeu "Que quede como está, ya no puedo repetirlo más".
Na volta para casa, dirigindo em alta velocidade, Sosa sofreu um grave acidente , morrendo horas depois no hospital. Era 26 de novembro de 1964. Não sei se por conhecer e me impressionar com essa história desde criança (lembro do meu pai contando-a), cada vez que escuto esse tangaço acabo me emocionando.
Muitos consideram Sosa tão bom, e alguns até melhor, do que a lenda Carlos Gardel. Curiosamente, suas vidas têm vários aspectos parecidos: Nenhum deles é argentino de nascimento, Gardel era francês e Sosa, uruguaio. Ambos tiveram uma morte trágica (Gardel em um desastre de avião), e no auge de suas carreiras. Com vocês, Julio Sosa em sua gravação mais dolente:
Neste fim de semana mágico, vi gente militando pela música latina, enfrentando todo tipo de perrengue para divulgar artistas e ritmos que o mainstream não abarca.
Assisti a uma das minhas bandas favoritas dar um show com músicas poderosas, mas também de profissionalismo.
Vi uma garotada competente tocando bonito junto de gente com mais estrada.
Conheci pessoas de muita "buena onda"!
E vivi uma noite musical das mais divertidas da minha vida. Com a palavra, Maurício Gouveia que sintetizou o que aconteceu nesta sexta feira com muita competência e sensibilidade:
"Muitos dos momentos mais mágicos e
incríveis do ROCK´n´ROLL – e da Arte, em geral – NÃO ACONTECERAM SOB OS
HOLOFOTES. O momento de inspiração que gerou aquela nossa canção favorita, a
conversa em que Mick Jagger e Keith Richards decidiram montar uma banda, a Jam
session numa boate do Rio, nos anos 70, em que Stevie Wonder tocou bateria, o
Jorge Ben guitarra e Sérgio Mendes foi pro piano (isso aconteceu mesmo, é
sério).
Na noite de ontem rolou um desses
momentos indescritíveis & INESQUECÍVEIS, desses que fogem ao script e
elevam a alma às alturas! A banda PEZ recebeu a equipe da Locos Hermanos,
alguns jornalistas e fãs no hotel Mango Mango. Vinho, tábuas de frio, sonidos
suaves de fondo e bate papo descontraído. Después fomos todos pro estúdio
PEDALADEIRA. Los Vulcânicos e a banda Enio & A Nóia tocaram algumas
canções, e Nelson Burgoz levou algumas das suas canções acompanhado do Dony
Escobar, do Filipe e do zozio RL. Mas é claro que tudo havia sido planejado,
desde o início, para que batesse a coceira no Ariel, no Fósforo Garcia e no
Franco...
E ROLOU A JAM SESSION COM O PEZ!!! Os 20
pares de ouvidos que tiveram o privilégio de estarem já assistiram a banda se
soltando e brincando, no maior alto astral e despojamento!
No momento mais loco
da noite, de um jeito que não saberia explicar como, DJ Ácaro e Felipe Proença
cantaram “Ziggy Stardust” do Bowie, com todos os músicos juntos &
mesclados!!!"
Responda rápido: o que os álbuns a seguir têm em comum (além de serem TODOS maravilhosos)?
Doomsday Afternoon (Phideaux) Divisor de águas na sua carreira do americano Phideaux Xavier, este é um álbum primoroso do início ao fim. Seus três trabalhos seguintes mantiveram o padrão.
Nigth (Gazpacho) Um álbum denso, cheio de climas distintos. É meio covardia colocar o Gazpacho nessa lista porque todos os álbuns desse grupo estarão nas listas dos melhores dos anos em que foram lançados.
Sleeping in Traffic - Part One (Beardfish)Trabalho de grande fôlego desses suecos. A parte 2 faz um par perfeito.
Sound of Apocalipse (Black Bonzo) Sem dúvida o melhor álbum da carreira destes também suecos. O vocalista Magnus Lindren é um dos melhores em atividade.
Rapid Eye Movement (Riverside) Vigor e competência diretamente da Polônia (um dos cenários mais interessantes do progressivo europeu contemporâneo).
Sola Scriptura (Neal Morse) O mestre em uma obra magnânima. As músicas são tão extensas quanto belas.
2ns Hands (The Gourishankar) Esta banda russa, que canta em inglês, conseguiu sair do anonimato diretamente para a lista das melhores da década.
Fear of a Blank Planet (Porcupine Tree) Steven Wilson e Cia num dos melhores álbuns da carreira da banda. Destaque para a música Anesthetize.
Oblivion Sun (Oblivion Sun) O menos conhecido dessa lista foi uma bela surpresa. Pelas citações que fazem estes americanos devem ser ótimos ouvintes.
Blackfield II (Blackfield) O casamento musical do incansável Steven Wilson com o israelense Aviv Geffen em seu momento mais sublime.
Conseguiu responder? O fato é que foram lançados no mesmo ano: 2007. Do terceiro milênio não consigo pensar em outro que concentre tão boa relação quantidade/qualidade.
Já tentei fazer o mesmo exercício para este ano ou o anterior mas não consigo passar de cinco ou seis.
Estarei exigente demais ou sou apenas um desinformado?