I
O futuro paira sobre esse
possível presente
calmo como se soubesse o pouco
trabalho que terá.
A rua está vazia às cinco e meia
da tarde,
perdi alguma coisa mas não sei o
que é.
Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.
Da minha trincheira
perscruto detalhes
copos vazios
uma mosca asquerosa.
Papéis, que inutilmente
procuro catalogar.
Tenho quarenta e seis
mas carrego uns oitocentos.
Da minha trincheira
avanço olhares
pescoços violados.
Nesse labirinto
acumulo dívidas com meus sonhos
que nunca serão pagas.
Tenho quarenta e seis
e principalmente remorsos.
Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.
Percebi com os anos
que a felicidade, no começo
é só uma imagem
mas que no fim, tem gosto.
Acre.
Logo eu que sempre me orgulhei
de ser feliz com tão pouco.
II
Quantos nós precisarei desatar
antes de abandonar de vez minhas
fantasias?
Quisera ter convicções tão
sólidas
quanto as tuas, onde pudesse me
agarrar.
Sempre fui meio bufão
um mandril sem modos.
A verdade é que se vou à praça
e vejo os velhos jogando damas
ou crianças brincando no balanço,
reconheço em mim um resto de
humanidade
que julgara totalmente perdida.
Mas isso é pouco.
Camaleões mudam de cor para fugir
do predador
mas continuam camaleões.
Quantos nós ainda precisarei
desatar?
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