The Wall foi um dos álbuns da minha adolescência. Lembro de ir a um dos cinemas que ficavam na praça Saens Peña, com meu irmão Gilberto e meu primo Marcello, assistí-lo duas, três vezes seguidas no mesmo dia. Com a anuência de um lanterninha legal (sorry juventude se vocês não sabem o que é isso) saíamos para ir ao Bob's fazer um lanchinho rápido. Pois bem: No dia 29 de março desse ano assisti ao meu terceiro show do Roger Waters, desta vez tocando o The Wall na íntegra. Foi uma experiência, como dizer? Definitiva!
Explico, a seguir, um dos motivos do porquê.
No filme Relíquia Macabra (The
Maltese Falcon, 1941) o detetive particular Sam Spade é contratado para
encontrar uma mulher e acaba resolvendo um caso de roubo e assassinado por causa de uma estatueta de falcão. Todos
nós temos relíquias, macabras ou não. Cada um sabe que objetos merecem a sua
devoção: cds, álbuns de figurinhas, joias, sapatos. Cada um sabe o que seria
capaz de fazer para obtê-los.
Na parte final do show, o porco inflável que havia sobrevoado o público desce e é sacrificado
por esse próprio público. Enquanto isso, no palco, o muro é implodido. Dois sinais claros da
transformação da matéria e sinais que nós mesmos também estamos nos
transformando. Por um momento ficamos na dúvida se o porco deveria ter tido
mesmo aquele fim. Por um momento não queremos acreditar que teremos que seguir
em frente. Por um momento queremos que o falcão maltês nunca seja encontrado.
Ao meu ver, Waters não se livrou
completamente do trauma da cusparada (obrigado EVANDRO pela aula). E segue
sacrificando seus porcos, dia após dia, show após show, para lembrar-se de que há
finitude, no sucesso e na vida (na turnê anterior o porco se perdia nos céus).
Ganhei do Bruno Najjar (que
ajudou a trucidar o bichano. Obrigado novamente), um retalho do suíno voador.
Não precisei matar ninguém como no filme, não precisei expurgar nenhum trauma.
Provavelmente o colocarei numa
moldura como fazia Jonh Huston, o
diretor do filme, com as carcaças dos animais que abatia em safaris pela
África. Não para lembrar do show, já que não há como esquecer mas para
materializá-lo (desde a adolescência, quando me engalfinhava por palhetas
lançadas pelos guitarristas de Heavy Metal não tenho essa possibilidade).
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