Em 1976, Jorge Luis Borges (1899-1986), já quase um octagenário lança o livro A Moeda De Ferro. O livro traz o poema O remorso (El remordimiento, no original). Um poema que é uma declaração de sua infelicidade. Imediatamente aclamado pela crítica, nele vemos um Borges diferente daquele não baixava a guarda, aquele que certa vez disse "A cegueira é clausura, mas também libertação, solidão propícia ao ato criador, uma chave, uma álgebra".
El Remordimiento é um acerto de contas com o passado, com a solidão, com a vida.
El remordimientoHe cometido el peor de los pecados
Que un hombre puede cometer. No he sido
Feliz. Que los glaciares del olvido
Me arrastren y me pierdan, despiadados.
Mis padres me engendraron para el juego
Arriesgado y hermoso de la vida,
Para la tierra, el agua, el aire, el fuego.
Los defraudé. No fui feliz. Cumplida
No fue su joven voluntad. Mi mente
Se aplicó a las simétricas porfías
Del arte, que entreteje naderías.
Me legaron valor. No fui valiente.
No me abandona. Siempre está a mi lado
La sombra de haber sido un desdichado.
As três traduções que selecionei fazem interessantes escolhas. Todas bem distintas. Aqui Antônio Cícero justifica maravilhosamente o porquê de naderias ao invés da fácil ninharias. Coisa de quem sabe o que diz e pensa o que escreve.
O remorso
Cometi o pior desses pecados
Que podem cometer-se. Não fui sendo
Feliz. Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, despiedados.
Plos meus pais fui gerado para o jogo
Arriscado e tão belo que é a vida,
Para a terra e a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua vontade. A minha mente
Aplicou-se às simétricas porfias
Da arte, que entretece ninharias.
Valentia eu herdei. Não fui valente.
Não me abandona. Está sempre ao meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.
(tradução: Fernando Pinto do Amaral)
O remorso
Cometi o mais fatídico pecado
que um homem pode cometer. Não fui
feliz. Que o gelo que do olvido flui
me arraste e perca, desapiedado.
Meus pais forjaram-me foi para o jogo
incerto, mas esplêndido, da vida
e para a terra, o ar, a água e o fogo.
Fraudei-os. Não fui feliz. Descumprida
ficou-lhes a vontade adolescente.
Ative-me às simétricas porfias
das artes, que entretecem ninharias.
Legaram-me valor. Não fui valente.
Não me abandona – sempre está a meu lado
– a sombra de ter sido um desgraçado.
(tradução: Gil Pinheiro)
O remorso
Cometi o pior dos pecados
Que um homem pode cometer. Não fui
Feliz. Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, desapiedados.
Meus pais me engendraram para o jogo
Arriscado e formoso da vida,
Para a terra, a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua jovem vontade. Minha mente
Se aplicou às simétricas porfias
Da arte, que entretece naderias.
Legaram-me coragem. Não fui valente.
Não me abandona. Sempre está a meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.
Feliz. Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, desapiedados.
Meus pais me engendraram para o jogo
Arriscado e formoso da vida,
Para a terra, a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua jovem vontade. Minha mente
Se aplicou às simétricas porfias
Da arte, que entretece naderias.
Legaram-me coragem. Não fui valente.
Não me abandona. Sempre está a meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.
(tradução: Antônio Cícero)
É um soneto? Por bela que seja a tradução, o Antonio Cícero não pode dessonetá-lo assim.
ResponderExcluirSe não for, como o outro inventou de traduzir em soneto?
Y si tu pusiera el eriginal también?
Não é um soneto pela forma nem pela métrica. O outro é que tomou a liberdade.
ExcluirE o original, meu caro, está antes das traduções!