Há uns três meses, numa excursão botequineira pela região do Estácio, entre azulejos descontinuados e cobogós abandonados, pus-me a ranquear batidas de maracujá. Lá pelas tantas, mais alegre do que triste, comecei a conversar com um sujeito que bebia no mesmo balcão do que eu. Assuntos de pinguço: clima, futebol, bons tempos. Palavras nascidas sem causa ou consequência. Papo vai, papo vem, nem sei o porquê, falei de minhas filhas.
Foi a senha para que ele retirasse do bolso a fotografia de uma menininha. Devia ter uns três, quatro anos no máximo. Vestia um casaquinho amarelo de linha, usava óculos. Chorava no momento em que a foto foi tirada. E tentava dizer alguma coisa. O choro lhe franzia a testa. Suas palavras não foram capturadas pela imagem.
Foi a senha para que ele retirasse do bolso a fotografia de uma menininha. Devia ter uns três, quatro anos no máximo. Vestia um casaquinho amarelo de linha, usava óculos. Chorava no momento em que a foto foi tirada. E tentava dizer alguma coisa. O choro lhe franzia a testa. Suas palavras não foram capturadas pela imagem.
Depois de observar a foto alguns segundos me disse: "Eu já perdi duas filhas".
Eu precisava falar alguma coisa para preencher o silêncio insuportável que se instalou e tomou o bar, talvez toda a cidade. Só saiu: "Sinto muito. Foi acidente?"
Ele se recompôs, fitou-me com olhos ocos e disse baixinho: "Graças a Deus elas não morreram. Eu é que morri pra elas".
Virei o copo.
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