Será que realmente pareço uma criança
quando esfrego os olhos com os nós dos dedos?
Ou será apenas a imaginação dela
que vê um garoto desprotegido
quando estou apenas dormindo
com as mãos unidas sob o travesseiro?
Será que é porque acordo constantemente em pesadelos
e apavorado a abraço forte demais?
É que desde menino,
sempre tive medo das sombras,
daquelas sombras em movimento que os faróis dos carros projetavam no teto do
quarto.
Abominava persianas.
E me lamentava pela alergia que proibia as cortinas.
Só ia dormir,
quando o sono era imenso,
e se acordava, a
qualquer hora,
não tentava mais.
Pareço uma criança quando me empolgo
com meus novos brinquedos?
É porque quero ver sempre o mesmo filme?
Talvez seja porque uso demais diminutivos,
invento nomes, apelidos que são quase gemidos.
E volta e meia retorno àquela conversa sobre um gato,
tão legal ter um gato, deixa que eu cuido,
prometo que você não vai ter trabalho.
Mas quando a toco
e me descontrolo de tanta excitação
é que finalmente aceito essa minha mutação.
Reconheço aquele menino saliente
que não sabia nada dessas coisas
e mentia aos colegas da escola que, é claro, também mentiam.
Pela casa a sigo,
mergulho em seu decote
para redescobrir o que já conheço tão bem.
Como minha falta de jeito a diverte!
Ri, quer saber por que só agora acredito.
Enquanto docemente me beija a boca,
furtiva, abre um botão da minha camisa,
e olho no olho diz
que eu sou seu homem,
mas também seu menino.
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